Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro é uma iniciativa do Sesc e será aberta em agosto, em São Paulo
O Rio Grande do Sul estará representado por 10 artistas na exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, a mais abrangente mostra dedicada exclusivamente à produção de artistas negros já realizada no País. Com abertura agendada para o dia 02 de agosto, no Sesc Belenzinho, em São Paulo, a mostra parte da premissa de dar centralidade ao pensamento negro no campo das artes visuais brasileiras, em diferentes tempos e lugares.
Com curadoria assinada por Igor Simões, em parceria com Lorraine Mendes e Marcelo Campos, Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro apresentará ao público obras de cerca de 240 artistas negros – entre homens e mulheres cis e trans, de todos os estados do Brasil – em diversas linguagens como pintura, fotografia, escultura, instalações e videoinstalações produzidas entre o fim do século XVIII até o século XXI.
Representando o RS, estarão presentes obras de Gustavo Assarian, Judith Bacci, Leandro Machado, Maria Lídia Magliani, Mitti Mendonça, Pamela Zorn, Paulo Chimendes, Silvana Rodrigues, Silvio Nunes Pinto e Wilson Tibério. Mais detalhes sobre os idealizadores podem ser conferidos a seguir.
“Como uma instituição que tem na diversidade uma de suas principais marcas, o Sesc busca, por meio de suas ações, dar voz aos mais diversos segmentos sociais, estimulando o debate e ajudando a registrar a história e cultura de nosso povo em toda sua abrangência e riqueza”, diz o diretor-geral do Departamento Nacional do Sesc, José Carlos Cirilo. “Dentro dessas premissas, o projeto Dos Brasis lançou um olhar aprofundado sobre a produção artística afro-brasileira e sua presença na construção da história da arte no Brasil. Um trabalho que contou com nossos analistas de cultura, em um grande alinhamento nacional. A exposição é a culminância desse processo e oferece ao público não só a oportunidade de conhecer a obra de artistas e intelectuais negros, com também de refletir sobre sua participação nos diversos contextos sociais”, completa.
“Nos sentimos muito orgulhosos de estarmos sendo representados com obras de 10 artistas gaúchos integrando essa mostra que apresenta um Brasil por inteiro, que coloca em evidência a importante produção artística afro-brasileira e que registra essa cultura como parte fundamental na construção da nação”, ressalta a diretora regional do Sesc/RS, Sandra Lindorfer. “O Sistema Fecomércio-RS/Sesc acredita na potência da arte como forma de humanização e de contribuição para o desenvolvimento social integrador, diverso e coletivo”, sublinha.
Trajetória – A ideia da mostra nasceu em 2018, um projeto de pesquisa fruto do desejo institucional do Sesc em conhecer, dar visibilidade e promover a produção afro-brasileira. Para sua realização, foram convidados os curadores Hélio Menezes e Igor Simões. Em 2022, o projeto passou a ter a curadoria geral de Simões, com os curadores adjuntos Marcelo Campos e Lorraine Mendes. A partir de 2024, uma parte dos trabalhos circulará em espaços do Sesc por todo o Brasil pelos próximos 10 anos.
Para se chegar a esse expressivo e representativo número de artistas negros, presentes em todo o território nacional, foram abertas duas frentes. Na primeira, foram realizadas pesquisas in loco em todas as regiões do Brasil com a participação do Sesc em cada estado. Essas ações desdobraram-se em atividades e programas como palestras, leituras de portfólio, exposições, entre outros, com foco local. Vale ressaltar que esse processo teve uma atenção especial para que não se limitasse apenas às capitais de cada estado, englobando também a produção artística da população negra de localidades como cidades do interior e comunidades quilombolas. A equipe curatorial pesquisou obras e documentos em ateliês, portfólios e coleções públicas e particulares.
A segunda frente foi a realização de um programa de residência artística on-line intitulado “Pemba: Residência Preta”, que contou com mais de 450 inscrições e selecionou 150 residentes. De maio a agosto de 2022, os integrantes foram orientados por Ariana Nuala (PE), Juliana dos Santos (SP), Rafael Bqueer (PA), Renata Sampaio (RJ) e Yhuri Cruz (RJ). A residência, que reuniu artistas, educadores e curadores/críticos, contou ainda com uma série de aulas públicas com a participação de Denise Ferreira da Silva, Kleber Amâncio, Renata Bittencourt, Renata Sampaio, Rosana Paulino e Rosane Borges, disponíveis no canal do Sesc Brasil no YouTube.
Núcleos – A proposta curatorial rompe com divisões como cronologia, estilo ou linguagem. Para esta exposição, não caberá a junção formal, estilística ou estética. Dessa maneira, os espaços expositivos do Sesc Belenzinho contarão com sete núcleos: Romper, Branco Tema, Negro Vida, Amefricanas, Organização Já, Legítima Defesa e Baobá, que têm como referência pensamentos de importantes intelectuais negros da história do Brasil como Beatriz Nascimento, Emanoel Araújo, Guerreiro Ramos, Lélia Gonzales e Luiz Gama.
Exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro
Site do projeto: www.sesc.com.br/atuacoes/cultura/artes-visuais/dos-brasis/
Período expositivo: 2 de agosto de 2023 a 28 de janeiro de 2024
Horário de funcionamento: Terça a sábado, das 10h às 21h. Domingos e Feriados, das 10h às 18h
Classificação indicativa: Livre
Entrada gratuita
Local: Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000, Belenzinho – São Paulo (SP)
Telefone: (11) 2076-9700
FICHA TÉCNICA
Curadoria geral: Igor Simões – RS
Curadoria adjunta: Lorraine Mendes – RJ e Marcelo Campos – RJ
Cenografia: Isabel Xavier – SP
Coordenação do projeto educativo: Janaina Machado – SP
Comunicação visual: Claudio Bueno e João Simões – SP
Iluminação: André Boll – SP
Produção: Ana Helena Curti – SP (Arte 3) e Vanessa Soares – SP (Movimentar)
Exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro: Os artistas gaúchos selecionados
Gustavo Assarian – Porto Alegre (RS), 1993
Núcleo Legítima Defesa
Artista visual graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atualmente cursando Licenciatura em Artes Visuais e Mestre em Poéticas Visuais na mesma instituição. A produção de Assarian está ligada à uma pesquisa das possibilidades do desenho no âmbito da autobiografia, o que chama de “reavivamento de memórias”, retomando situações vividas, num re-encenar da vida por meio das formas suscitadas nos desenhos.
Judith Bacci – Pelotas (RS), 1918-1991
Núcleo Amefricanas
Trabalhou como zeladora da antiga Escola de Belas Artes (EBA), posteriormente denominada Instituto de Letras e Artes e, atualmente, Centro de Artes, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Interessou-se pela escultura, formato em que apresenta seu trabalho. Começou com a produção de pequenos pratos de gesso em relevo, que fazia para subsistência, explorando posteriormente uma justaposição entre realismo e religiosidade, e uma reflexão sobre o corpo e a maternidade.
Leandro Machado – Porto Alegre
Núcleo Legitima Defesa
Formado em Artes Visuais e licenciado em Educação Artística pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), possui especialização em Saúde Mental pela Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (ESP/RS) em Porto Alegre. Em seu processo artístico, Leandro Machado utiliza técnicas de fotografia, desenho e gravura para desvendar sentimentos suscitados pela dinâmica das cidades.
Maria Lídia Magliani – Pelotas (RS), 1946 – Rio de Janeiro (RJ), 2012
Núcleo Romper
Pintora, desenhista, gravadora, ilustradora, figurinista e cenógrafa, foi graduada em Artes Plásticas e pós-graduada em Pintura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Viveu, desde a infância, no bairro Sarandi, periferia porto-alegrense. Sua formação tem influência direta da família, também de artistas. Atravessou o contexto da ditadura atuando abertamente em reflexões a respeito das imposições sobre o corpo e a condição da mulher na sociedade.
Mitti Mendonça – São Leopoldo (RS), 1990
Núcleo Organização Já
Artista têxtil e ilustradora, participou de Presença negra (Museu de Artes do Rio Grande do Sul), de mostra na Casa do Brasil de Lisboa (Portugal) e é criadora do projeto Mão Negra. Por meio de pesquisas acerca de narrativas contra-hegemônicas, investiga álbuns de família e a prática do bordado – herdada das mulheres de sua própria família –, como meios de preservação e continuidade de saberes e articulações socioafetivas. Seus trabalhos incorporam diversos materiais e técnicas ao bordado, na construção de imagens acerca da ancestralidade, da identidade e do pertencimento.
Pamela Zorn – Três Coroas (RS), 1998
Núcleo Amefricanas
Mestranda em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pamela Zorn é artista visual e arte educadora. Participou da coletiva Presença negra (Museu de Artes do Rio Grande do Sul), foi vencedora do 5º Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea e artista destaque do 15º Prêmio Açoriano de Artes Plásticas. A autorrepresentação e as noções de impermanência, identidade racial e memória perpassam sua pesquisa, dedicada principalmente à pintura.
Paulo Chimendes – Rosário do Sul (RS), 1953
Núcleo Baobá
Importante desenhista, gravador e pintor, entrou em contato com a arte aos 12 anos de idade por meio de Paulo Peres, no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre. Foi integrante do Oficina 11, importante ateliê de litografia e gravura em metal, e é um dos fundadores do Núcleo de Gravura do Rio Grande do Sul. Com inúmeras exposições individuais e coletivas, Chimendes explora a expressividade da figura humana, as possibilidades da linguagem gráfica e da abstração, e a criação de paisagens e cidades imaginárias.
Silvana Rodrigues – Porto Alegre (RS), 1986
Núcleo Legítima Defesa
Atriz, diretora, dramaturga e performer, é bacharela em Teatro – Direção Teatral pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Universidade de Évora (Portugal), e é cofundadora do grupo de teatro Pretagô. Participou de Presença negra (Museu de Artes do Rio Grande do Sul) e Artes à rua, em Évora.
Silvio Nunes Pinto – Viamão (RS), 1940-2005
Núcleo Baobá
Foi trabalhador do campo, jogou futebol amador e tem uma produção consolidada na construção de objetos em madeira, materializando uma grande capacidade de observação, apuro técnico e respeito à sua matéria-prima. A partir do entalhe e revelando complexas resoluções técnicas, produziu peças utilitárias, móveis e objetos lúdicos, que atualmente se encontram, em sua quase totalidade, no acervo da Fundação Vera Chaves Barcellos, no Rio Grande do Sul.
Wilson Tibério – Porto Alegre (RS), 1920 – Mazan (França), 2005
Núcleo Romper
Pintor, desenhista e escultor, começou a pintar aos 8 anos de idade. Estudou na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, cidade onde teve contato com importantes intelectuais e movimentos artísticos, como o Teatro Experimental do Negro. Como bolsista pela Escola de Belas Artes, instalou-se na França e conheceu vários países, incluindo o Senegal e os atuais Benin e Burkina Fasso. Expôs em diversos países e dedicou sua produção ao retrato de temáticas brasileiras, a infância e os rituais de candomblé.