TRAMA: arte têxtil no Rio Grande do Sul
Com patrocínio da PETROBRAS, a exposição com curadoria de Carolina Grippa apresenta, pela primeira vez, 36 trabalhos de 17 artistas gaúchos. As tapeçarias de Erica Turk, Jussara Cirne de Souza e Wilhelm Horvath trazem as técnicas mais tradicionais, enquanto as de Yeddo Titze, Liciê Hunsche, Ivandira Dotto e Fanny Meimes usam a lã, mas já buscam formatos e volume na peça. Outras seguem com o formato plano, mas inovam nos materiais e no desenho, como é o caso das duas tapeçarias bordadas por Salomé Steinmetz e as de telas galvanizadas de Ana Norogrando. Serão apresentados, também, trabalhos de Heloisa Crocco, que, a partir de rede e fibra de vime, desenvolve uma peça tecida; de Sonia Moeller, que realiza um conjunto com as mais diversas técnicas, como bordado, tecelagem, colagem, entre outras; e de Arlinda Volpato, Joana Azevedo Moura, Luiz Gonzaga, Nelson Ellwanger.
A mostra traz, ainda, trabalhos que não se enquadram no formato tapeçaria, mas tem no cerne da sua construção o tecer. Zoravia Bettiol deu esse salto ao espaço, tecendo em bases de ferro, multiplicando os formatos que as suas obras poderiam adquirir, como é o caso do trabalho Granada, da série Transparências Geométricas (1974). Outra artista de destaque é Berenice Gorini, que realizou uma intensa pesquisa com materiais alternativos, como a palha, para a construção de formas orgânicas e vestimentas, essas segundas sendo bem conhecidas.
“O grande objetivo da exposição é mostrar os nomes mais relevantes da arte têxtil que são ou atuaram no Rio Grande do Sul e que tiveram uma trajetória relevante nesse segmento, participando de diversas mostras desenvolvidas no país a partir da década de 1970. Também é importante registrar a diversidade dessa produção, que do plano buscou a tridimensionalidade e que da tradicional lã foi para uma diversidade de materiais, mostrando a versatilidade de cada poética percorrida por cada um dos artistas”, diz Grippa.
Reparação na história da arte
A ideia de contar a história da arte têxtil no RS surgiu durante uma viagem de Carolina Grippa ao Canadá, após uma visita à mostra Sheila Hicks: Material Voices, no Textil Museum of Canada. Sheila consagrou o retorno do têxtil ao campo da arte, desenvolvendo uma obra que há mais 50 anos oscila numa interseção entre arte, design, artesanato e arquitetura.
De volta ao Brasil, Grippa começou a sua pesquisa sobre tapeçaria e arte têxtil. Lembrou-se de apenas duas exposições: Percurso do Artista – GONZAGA, de Luiz Gonzaga, na Sala João Fahrion, na Reitoria da UFRGS (2014), e Zoravia Bettiol – o Lírico e Onírico, no Margs (2016). Ao perceber um vazio historiográfico, foi estudar arte têxtil no trabalho de conclusão de curso no bacharelado em História da Arte da UFRGS, com orientação de Joana Bosak de Figueiredo e, depois, no mestrado em História, Teoria e Crítica de Arte, com orientação de Paulo Gomes. “Há uma história da tapeçaria e arte têxtil que não está nos livros da ‘grande’ História da Arte, havendo algumas razões para esse esquecimento. O primeiro a ser citado é o próprio lugar da tapeçaria na história da arte, cujo papel está, majoritariamente, ligado às artes decorativas, com pequeno ou nenhum destaque no estudo das ‘Belas Artes’”, destaca Grippa no texto curatorial de Trama.
Precursores da arte têxtil no RS, Zoravia Bettiol e Yeddo Titze embarcaram para Europa, em 1968, em busca de conhecimentos. Yeddo foi a Aubusson, um dos centros de tapeçaria mais reconhecidos na França, sendo uma das cidades em que Jean Lurçat trabalhou intensamente com diversos ateliês, trazendo artistas modernos, como Alexander Calder, Pablo Picasso, para realizarem cartões a fim de serem tecidos, ajudando na modernização da técnica têxtil. Zoravia foi à cidade de Varsóvia, na Polônia, onde havia uma geração de artistas que estavam se voltando ao tecer, sendo estudada como a pintura e a escultura. Com influências bem distintas, eles retornaram ao Estado e foram direto para a sala de aula: Yeddo lecionou na Universidade Federal de Santa Maria, e Zoravia em diversos espaços de Porto Alegre, criando-se, assim, uma geração de artistas ligados ao têxtil.
Conversa sobre a exposição – Ainda no sábado (3), às 17h, acontece uma conversa sobre Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul com a curadora Carolina Grippa e convidados.
O bate-papo, que ocorre no auditório da Fundação Iberê, também será transmitido pelo YouTube do Instituto Ling. ENTRADA GRATUITA.